Cruviana era coisa braba, quando ela vinha, vinha mesmo e não havia nada que barrasse a bicha. Quando as pessoas estavam encombucadas nas redes, ou mesmo nas camas de forquilha com colchão de palha de bananeira, quando se tinha ao menos isso, ainda que bem, Mas ela era deixada ali, amarrada na perna da mesa fincada no chão e devidamente chumbada (o marido ficara esperto desde a última fuga da mulher).
Tinha ainda os lençóis de saco de açúcar, que realmente...Ainda bem, vá lá, deixavam as criaturas humanas bem mais protegidas do frio intenso durante as madrugadas.
Mas o que dizer dela que não tinha nenhum desses apetrechos? Nem mesmo do lençol, pois o doutor havia proibido o marido de lhe dar uma cobertura de pano que fosse, pois, segundo o doutro, ela poderia se matar enforcada. Imaginem mesmo, ela se enforcar. Deus a livrasse. Apesar de tudo, gostava de viver.
Mas realmente esse não era o caso dela: nem lençol de saco de açúcar, nem rede de fio grosso, nem cama de forquilha com colchão de palha de bananeira, então o remédio era mesmo tentar fugir e meter o pé na estrada, meter o pé na carreira.
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ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor aposentado do estado (ainda leciona na rede municipal de educação), poeta e escritor. Presidente da APLA – Academia Pedro-segundense de Letras e Artes, membro da UBE-PI, ALVAL e do IHGPI. Formado em Letras pela UFPI, onde também fez mestrado. Membro fundador do Coletivo P2. Pertence aos coletivos ‘Amigos da Literatura’ e Coletivo Literário de São Benedito, CE. É autor, dentre outros livros de “Debaixo da Figueira do Meu Avô” (Livraria Entrelivros, Teresina). Atualmente prepara três novos livros, dente estes “História, Geografia e Literatura de Pedro II, Piauí” . Escreve aos sábados para o Portal P2.
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