
Cindô nem pode acreditar quando avistou aquilo. Certo que fazia mais ou menos um mês que não dava as caras para as bandas da mina Boi Morto, mas aquilo era demais. Como o bicho homem era capaz de fazer aquilo tudo, como? Ele já tinha visto numas revistas que Mr. Freak Lee trouxera da Austrália. Ali havia muitas fotos daquelas coisas, mas ele nunca nem sonhara em ver uma de perto.
Não resistiu e tão logo o jeep com Dr. Nilson parou, o menino correu para perto da enorme escavadeira e passou a mão bem devagar com um riso solto no rosto como a certificar-se de que aquilo era mesmo real. O toque afastou a cobertura de pó avermelhado e, então, o aço da máquina deixou o observador admiradíssimo.
Dr. Nilson Lacerda, depois de desligar o carro, tratou logo de carregar sua inseparável bolsa de couro a tiracolo e mais uns mapas, binóculo dependurado no pescoço e outas coisas mais. Ao mesmo tempo Mr. Freak Lee acendeu um charuto e enquanto ajeitava melhor o chapéu, deu uma gostosa baforada. Cindô gostava do aroma dos charutos do homem.
Uns garimpeiros entenderam o sinal que o gringo fez para eles e trataram logo de vir descarregar o jeep. Eram os mantimentos da semana, pouca coisa. O resto dos mantimentos Dr. Nilson Lacerda havia mandado comprar em Piripiri, pois saía mais a contento.
O comércio de Pedro II era muito acanhado. E por mais que Dr. Nilson Lacerda comprasse, sempre ficava faltando alguma coisa. Tinha vez que ele comprava para mais de dez sacas de arroz, outras quatro de farinha; cem quilos de café, outras tantas sacas de açúcar, mas sempre faltava alguma coisa. Então ele mandava alguém de confiança fazer as compras em Piripiri. Se não tivesse lá, Teresina. E na falta dessa, Fortaleza.
Mas aquela máquina ali que Cindô ainda acariciava, aquela coisa era especial. Era i-m-p-o-r-t-a-d-a. E tinha um nome grande, grande, que Cindô levou mais alguns segundos para soletrar do que de costume: ca-ter-pi-llar. O menino ficou mais impressionado ainda quando Mr. Freak Lee lhe disse que significava ‘lagarta’ em português. E um riso inteligente aflorou nos lábios do menino quando, por pensamento próprio, associou o fato de que tanto a lagarta de verdade como a máquina cavavam na areia.
(*) Trata-se de um texto de ficção.
(Imagens: retiradas da internet. Mapa de Pedro II de autoria da profa. Ivanilda Amaral)
ERNÃNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. Escreveu, dentre outro livros, “Lendas de Pedro II”. Escreve para este portal sempre aos sábados.
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