Humberto Cordeiro é pedro-segundense (neto de Mestre Alessandro, maestro da Bandinha de Música dos anos 1940-1960), membro da APLA – Academia Pedro-segundense de Letras e Artes, Analista Judiciário/TRF1- Seção Piauí, artista plástico (ver obra sua na Pinacoteca Marechal das Artes), músico, carnavalista e cordelista. Já foi medalhado pela COCHACOR (Cordelaria Chapada do Corisco), da qual foi um dos fundadores.
Humberto não é marinheiro de primeira viagem, pois são dele os cordéis “A estória da coisa feia que apareceu em Pedro II e espalhou o terror pelos quatro cantos do mundo”, “Com amor quero rimar”, “A reforma do clube 11 de agosto em 1982 e os dias atuais”, dentre outros. Eis,pois, que às vésperas do carnaval de 2025 nos chega o Dr. Humberto com mais um cordel de sua lavra, trata-se de: Ziriguisamba em versos – carnaval de Pedro II, PI, 1983/1990”, editado pela Gráfica e Editora RIMA, no nosso amigo em comum e também cordelista e editor de cordel Raimundo Clementino.
Para quem não sabe, o carnaval de Pedro II de outrora já foi um dos mais animados do Piauí. Na década de 1940 os irmãos Orsano, Edson e Raimundinho, eram exímios animadores de corsos carnavalescos. Com sua charanga hiperenfeitada, desfilavam que só vendo pelas ruazinhas da cidade arrastando dezenas de pessoas, sobretudo crianças e jovens, mas os adultos também e mesmo os idosos não conseguiam se conter à passagem dos corsos dos irmãos Orsano.
Eles continuariam brilhando nas décadas de 1950 e adentraram à de 1960, chegando mesmo a triscar na de 1970.
.O professor Adail Brandão, uma vez postou isso no seu face book: “Quem viveu na década de 1980, guarda ótimas lembranças de um Pedro II, ingênuo e faceiro, com suas turmas, grupos de adolescentes que se reuniam na Praça da Bonnelle, para se divertir, jogar conversa fora, paquerar. Ficávamos no início da noite em tal praça, circulando em torno dela, e na segunda parte da noite íamos a festas na CNEC, no Ponto Frio ou no Clube 11 de Agosto. Quase ninguém tinha transporte, no máximo, bicicletas. Era um tempo sem motocicletas. Mas éramos muito felizes...”
O que disse o professor se aplica perfeitamente ao carnaval de Pedro II dos anos 1980 e das décadas anteriores: eram festas ingênuas, despretensiosas, todo mundo amigo de todo mundo. Ali surgiram e brilharam vários blocos carnavalescos como: Os Brilhantes, Os Abelhas, Tesourão, Balancê, Mania de Você, As Cochichinhas, As Andorinhas, Só Pra Nós, Os Radioativos e Os Trakinus (para quem criei o logotipo com o tridente)
Pois seria exatamente na década de 1980, mais precisamente no ano de 1983, que a maior de todas as estrelas do carnaval do município surgiria: a escola de samba Ziriguisamba. O nome da escola vem da palavra africana ‘ziriguidun’, que significa ‘festa de carnaval’.
De fato, a ZIRIGUISAMBA nasceu do bloco carnavalesco Vírus Ethilicus, segundo informações do professor Afonso Getirana, com a ajudinha do Humberto.
Outros personagens envolvidos com esta escola de samba foram Café, Getulivan Perfeito, J. Batista (criação/pintura dos estandartes), costureiras Emília, Francisca e Laura, Antonio Albuquerque, Cildivan Carlos, João Campelo, Ivon do seu Laurinho, Iran e Raimundinho Mendes. Carlos AlbertoCordeiro, Witinho e Nonato (vampirinho), Eugênio Cavalcante, Carlos Mendoça, Agnelo, Antonio Luiz Barroso (Tuíte), Emerson (motorista da Bom Jesus), dentre outros.
Às vésperas da folia de Momo de 2025 Humberto Cordeiro nos brinda com mais um de seus cordéis, trata-se de ZIRIGUISAMBA, SUA HISTÓRIA EM VERSOS.
Fazendo uso de uma linguagem popular o cordelista nos faz desfilar diante dos olhos da memória cenas, personagens de uma Pedro II de outrora, com sua brejeirice, sua candura, sua tessitura social e urbana para nos revelar os interstícios daquela que foi a escola de samba que marcou a vida de gerações.
Sua influência no carnaval pedro-segundense foi de tal ordem que no carnaval de 2002 o deputado Wilson Brandão trouxe a famosa escola de samba Skindô, de Teresina, para desfilar em Pedro II com o samba enredo “Na terra da opala, lua de mel é na rede” e meu livro “Lendas da Cidade de Pedro II” foi uma da principais fontes de pesquisa para o mesmo.
Siriguisamba não existe mais de fato, mas ainda ecoa em nossos corações e mentes, na saudade que deixaram os que já partiram, na lembrança dos que a viram desfilar e ainda comentam, e na curiosidade e interesse das novas gerações em cujo coração só a arte consegue penetrar e fazer morada.
Que tenhamos todos um bom carnaval.
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(Fotos: Humberto Cordeiro, acervo do prof. Afonso Getirana, redes sociais de foliões de Pedro II. Intervenção visual e texto: Ernâni Getirana).
Ernâni Getirana (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. Membro criador do Coletivo P2, pertence às academias APLA, ALVAL e ao Instituto Histórico e Geográfico do Piauí, além de à UBE. É autor, dentre outros livros, de “Lendas da Sereia de Pedro II”. Atualmente prepara dois livros, um de poesia e outro didático intitulado, “História, Geografia e Literatura de Pedro II, Piauí”. Escreve para este portal aos sábados.
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