O Caminho das Pedras

Eu tenho uma opinião formada acerca de porque somos tão displicentes com respeito à cultura no Piauí. E minha base de referência, para cima, é a burguesia paulistana que apoiou a Semana de Arte Moderna de 1922. Bem que nossa elite poderia imitá-la nesse aspecto.

Explico: o Piauí é um estado que, historicamente, esteve/está muito arraigado ao sistema coronelista. Grosso modo, isso nos levou, por um lado,

a)     Termos um ‘povo passivo’ e;

b)   Termos uma elite totalmente descompromissada com a ‘cultura local’, mesmo que isso significasse (como, de fato, significa) a ‘perpetuação da memória’ dessa mesma classe social.

Aí, acontece o que sociologicamente ocorre: o povo foi fazendo sua marcação cultural com sua rica ‘cultura popular’ (que sempre ‘careceria’ de um ‘aval’ da cultura letrada, gráfica), mas que vai se constituindo nas vaquejadas, eventos religiosos, narrativas alternativas, etc, etc..

Quem poderia fazer o diferencial nessa pasmaceira seria, em tese, a ‘massa pensante’ de professores, mas isso não ocorre por algumas razões, dentre elas:

a)    Medo de comprometimento com correntes populares;

b)  Falta de grupos de pesquisas associados a universidades, etc. que teriam, por exemplo, em cada município um verdadeiro laboratório/campo de pesquisas intermitentes;

O da manga, em Altos, o Festival de Inverno, em Pedro II, o Festival da Cachaça, sei lá onde,  poderiam ser esses gatilhos (e até pensou-se nisso, ao que parece) para isso tudo acontecer. Contudo, as decisões são tomadas entre as quatro paredes dos palácios governamentais (e tem que ser assim mesmo até certo ponto, não discordo). Depois tem que beber nas fontes populares, com a participação popular.

Mas o problema é que as questões da cultura nunca são previamente discutidas no âmbito dos municípios, por exemplo. Ou seja, os Conselhos de Cultura (que já existiram, não se sei ainda vigoram)  abdicam de suas prerrogativas e delegam poderes a outras esferas de poder, quando poderiam agir conjuntamente, harmonicamente, havendo a participação popular, dos artistas locais, dos grupos culturais, etc. E seria até salutar haver discordâncias, etc, mas sempre num espírito de se fazer ‘o melhor  pelos respectivos municípios’.

Bom, a coisa é mais complexa, mas fico por aqui por enquanto.

ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor aposentado do estado (ainda leciona na rede municipal de educação), poeta e escritor. Presidente da APLA – Academia Pedro-segundense de Letras e Artes, membro da UBE-PI, ALVAL e do IHGPI. Formado em Letras pela UFPI, onde também fez mestrado. Membro fundador do Coletivo P2. Pertence aos coletivos ‘Amigos da Literatura’ e  Coletivo Literário de São Benedito, CE. É autor, dentre outros livros de “Debaixo da Figueira do Meu Avô” (Livraria Entrelivros, Teresina). Atualmente prepara três novos livros, dente estes “História, Geografia e Literatura de Pedro II, Piauí” (livro didático para escolas de Pedro II). Escreve aos sábados para o Portal P2.